Convidado: Arquimedes da Silva Santos
"O Fim da História e o Último Homem" (1992), a polémica obra de Francis Fukuyama foi um dos livros que mais marcou Arquimedes da Silva Santos, um dos primeiros psiquiatras infantis português e também um dos pioneiros do movimento da Educação pela Arte. Para este médico de formação, que exerceu clínica geral durante 50 anos, e que se especializou em pedopsiquiatria e em ciências pedagógicas, "este livro tem logo no título os problemas, que para mim, são os fundamentais. Primeiro o fim da história e depois o último homem." Toda a teoria apresentada "aponta como se alguma coisa fosse o terminnus de uma evolução relacionada com a nossa sociedade e com o nosso ser. Isto, evidentemente, levanta logo muitas interrogações. Há na verdade uma evolução que tem um fim? Ou a evolução continua apesar de haver filósofos e estudiosos que chegaram de certo modo a esta hipótese de que estamos no fim de algo? E, que este fim parece não ter continuidade?"
Afirmando que "eu não leio um livro sem contrapor com outros", Arquimedes, que também é poeta, fala ainda de um livro do historiador francês Georges Duby, " A Historia Continua" (1991), que se diferencia bastante da obra de Fukuyama. "Quer um quer outro têm muito interesse porque são dois pólos opostos de uma interpretação da sociedade e do homem."
Focando-se na obra do norte-americano de origens nipónicas, este médico que estudou dois anos na Sorbonne e que regressou em 1964 para integrar o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Gulbenkian, diz que Fukuyama coloca questões e constatações muitas vezes violentas. "Este livro abala bastante. Fukuyama coloca-se numa posição, que é sobre o ponto de vista do governo, da sociedade em que nos integramos, uma sociedade que se baseia fundamentalmente naquilo que ele considera ser a democracia liberal. E, é ai que nos levanta muitos problemas e muitas hipóteses. O que é uma democracia liberal?"
Na opinião de Arquimedes o fim da história, segundo Fukuyama, põe-se no ano de 1989 ("Ele inclusivamente diz que por todo o mundo há um consenso notável quanto à legitimidade da democracia liberal como sistema de governo…") e por sua vez Fukuyama interpreta esse fim como o princípio de uma outra história. O fim não é o fim em si mesmo mas o principio de uma outra coisa qualquer. Qualquer coisa, que para este medico conhecido por se colocar sempre "do lado das crianças", necessita de um olhar sobre as crianças – sobre o Primeiro Homem. "Tudo isto porque podemos possivelmente criar amanhã Homens mais sãos de corpo e de espírito e dai uma sociedade talvez, também, melhor."
Esta partilha foi publicada na rubrica "Ideias em Estante", jornal Expresso (30 Dezembro 2006)