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Será que as empresas nos manipulam (mesmo)?
NUM MOMENTO EM QUE O PODER ESTÁ NAS MÃOS DO CONSUMIDOR, AS EMPRESAS FAZEM DE TUDO PARA LEVAR AO CONSUMO. É UM "BRANDWASHED" TOTAL.
Imagine que tem uns vizinhos novos. O casal, que tem três filhos, acaba de se mudar para o seu bairro, que é de classe alta. São todos bem parecidos, simpáticos e têm um ar saudável. São, numa palavra, "aspiracionais". Dia após dia, a aproximação começa. O seu filho já joga à bola com os novos vizinhos e até já troca opiniões sobre os dispositivos informáticos do momento. Entretanto, o leitor já frequenta a casa da nova família e começa a permutar, por exemplo, experiências e receitas. Prova a tarte feita com a massa A, o sumo da marca B, os ovos fritos na frigideira C, a alheira transmontana grelhada no novo aparelho sem fumos, de marca D, o baton vermelho de marca E, o verniz F e até o gel de banho Y. Começa o processo. Observa, escuta, testa. Está convencido e começa a consumir as mesmas marcas. Ou seja, foi influenciado por uns vizinhos e não por qualquer propaganda. Tornou-se consumidor através do fenómeno "boca a boca", a mais poderosa ferramenta de marketing que uma marca pode ter, segundo Martin Lindstrom, autor de BrandWashed, um livro que tem vindo a marcar os olhares sobre as marcas.
Conhecido por ser "o marketeer mais inovador e criativo do mundo", como o designa Steven Levitt, autor de "Freaknomics", Lindstrom mostra através desta sua última obra os truques de marketing que as empresas usam para manipular as nossas mentes. Mas não só. Prova também que o poder da imaginação não tem limites. Prova disso é a original pesquisa que desenvolveu para descobrir quem é o mais poderoso persuasor oculto? Será que são as empresas? Não. Somos nós. Como é que Lindstrom provou isso? Pesquisando através de câmaras. Ou seja, investindo num 'reality show' (estilo "A casa dos segredos"), que contou com os nomes sonantes da produção televisiva. Os actores: uma família real. Os Morgenson. Uma família que viveu uma vida de fantasia durante 30 dias. Um mês em que foram observados e filmados. Tudo isto a um custo de produção de 3 milhões de dólares. Muito dinheiro. E uma conclusão: "o mais poderoso persuasor oculto somos nós".
E agora se a moda pega?
Das duas uma. Ou começamos a ter cuidado com os novos vizinhos, que podem ser pagos por alguma marca para nos influeciarem; ou lemos este manual que nos pretende esclarecer sobre quais as tácticas de marketing usadas pelas empresas. Não acreditando tanto na primeira alternativa (aqui colocada em tom de brincadeira), resta-nos a leitura deste livro onde ficamos a saber que "as empresas começam a vender-nos coisas ainda no útero". Parece demais, mas segundo o autor não é. Tal como não é demais abrir os olhos para as fobias, para os medos, para as fragilidades, que são aproveitadas pelas marcas. Afinal, as marcas querem vender. Os clientes, comprar o melhor. Juntando a necessidade ao engenho multiplicam-se os casos de marketing em que o sentimento e as emoções são a palavra de ordem. Para quem tem dúvidas, lembre-se do polémico caso recente da Crioestaminal, em Portugal. Este caso não está abordado neste livro. Estão outros. Tantos que provam que quem "tapa feridas" vira curandeiro. Numa sociedade com falta de tempo em que o stress é amigo da culpa, há sempre, em qualquer esquina, um produto "milagroso", que nos retira a culpa e nos dá, nem que seja aparentemente, algum bem estar. Até por isso este livro é recomendável.
Os 'takes' que levam à compra. Ou não.
Se em "Super Size Me - 30 dias de fast food", Morgan Spurlock comeu hambúrgueres quase até à morte, hoje, bem de saúde, escreve de forma elogiosa o prefácio de "Brandwashed", livro que aparece como uma extensão natural do seu último filme "Pom Wonderful Presents: The Greatest Movie ever sold". Mas o que têm em comum estas duas obras (o livro, de Linstrom, e o filme, de Spurlock)? Tentam "despertar a consciência para o quanto somos sujeitos a marcas e até atacados por elas durante todos os segundos das nossas vidas". O autor de "Brandwashed", 'expert' em neuromarketing, não tem dúvidas de que nesta guerra tudo vale. Na tentativa de descobrir 'qual o mais poderoso persuasor oculto', chegou a uma conclusão:: Somos "nós", os consumidores que levamos os outros a consumirem.
(Publicado no DE, dia 29 de Junho. Por Mafalda de Avelar in Ideias em Estante).
Este post também foi publicado no blog:www.livrosemanias.blogs.sapo.pt
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