"Maquiavel para Gestores Contemporâneos" de Fausto Marsol segundo João Duque no Diário Económico. Leia também aqui.
Diz o povo, sem razão, que santos da casa não fazem milagres. E assim parece quando um português escreve um livro de gestão.
Chamasse-se ele Jack ou Michael e atirar-se-iam aos seus pés, chamando-lhes de gurus. Mas se se chamam Fausto e escrevem arrojadamente sobre um clássico da literatura de liderança e com base na sua experiência organizacional, o português tem uma certa tendência para o descartar.
Fazem mal, porém, os que assim reagem perante o livro escrito pelo Fausto Marsol, intitulado "Maquiavel para Gestores Contemporâneos". É certo que Nicolò Maquiavel escreveu um magistral livro de conselhos destinado a príncipes e homens de poder, mas afinal, muitos dos gestores de hoje têm mais poder do que chefes de governos (particularmente em períodos de paz, uma vez que não comandam exércitos armados). A Wal-Mart Stores facturou em 2008 378.799 milhões de dólares, o correspondente a uma vez e meia o PIB português, país que surge em 43º lugar no ‘ranking' mundial dos países ordenados pelo PIB (dados do Fundo Monetário Internacional).
Para além da sua importância económica, o raio de acção destas empresas supera largamente os estreitos limites a que os Estados se confinam. A dispersão geográfica destas empresas universais ultrapassa fronteiras com a maior das naturalidades, são normalmente bem-vindas porque geradoras de riqueza, emprego e valor acrescentado, o que não se pode dizer dos Estados. Quando estes ultrapassam as suas fronteiras são considerados belicosos invasores...
Comparem a facilidade com que uma empresa Ibérica deslocaliza escritórios de Lisboa e os reabre em Madrid levando para lá inúmeros colaboradores. Agora imaginem a possibilidade de o Governo de Lisboa localizar em Madrid um qualquer organismo, mesmo que seja dedicado, por exemplo, à investigação científica...
Por isso, se Maquiavel dedicou o seu livro aos príncipes, e se lhes deixou os bons conselhos de como alcançar, ou melhor, manter o poder, se o tivesse escrito hoje teria escrito o seu livro dedicado aos que governam o mundo económico, particularmente aos que governam as empresas que, de um modo ou de outro, sustentam os Estados. Isto é, nos dias de hoje as empresas são a principal preocupação dos Estados uma vez que delas emana a riqueza-fluxo que é a principal fonte e base de tributação da actualidade: trabalho, capital, rendas e bens e serviços.
Por isso, se o livro de Fausto Marsol for lido numa escola de gestão por alunos ainda fora do mercado de trabalho, ele deve ser relido por aqueles que já se sentam em cadeiras de poder e ocupam funções de chefia.
Vão ver que, ao contrário de muito do que lêem escrito por muitos desses gurus da moda, não darão o tempo por perdido e ainda são desafiados a ler ou reler o original de Maquiavel...
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João Duque, Professor catedrático do ISEG
De Augusto Küttner de Magalhães a 30 de Setembro de 2009 às 21:49
Tenho grande admiração pelos raciocinos muito acertados/assertivos/oportunos/fundamentados que o João Duque faz, e até não poucas vezes, pela forma humoristicamente comparativa entre as mais diversas situações e assuntos concretos de economia. Aprende sempre mais alguma coisa.
Aqui gostaria de ressalvar a frase:
“Por isso, se o livro de Fausto Marsol for lido numa escola de gestão por alunos ainda fora do mercado de trabalho, ele deve ser relido por aqueles que já se sentam em cadeiras de poder e ocupam funções de chefia.”
Caro João
Um abraço
Augusto
De João Maria a 1 de Outubro de 2009 às 09:51
Cara Mafalda,
este seu blog não para de surpreender. Maquiavel para gestores será a próxima obra que vou comprar.
Com admiração, João Maria
De Augusto Küttner de Magalhães a 4 de Outubro de 2009 às 08:22
Leia-se o João Duque no Expresso de 3 de Outubro, e não é dos melhores textos, mas é sempre muito bom.
De Augusto Küttner de Magalhães a 5 de Outubro de 2009 às 02:18
Mafalda
Presumo que tenha aproveitado o fim-de-semana prolongaso para vir ao Norte. Se tiver oportunidade espreite o livro do Rui Moreira, Uma questão de Caracter" com alguma razão focando a necessidade de o Porto, ser outra vez o Porto...boa estada pelo Norte se for caso disso.
um beijo
Augusto
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