Alvin Toffler – o visionário, o futurista
(Leia aqui a entrevista em bruto a Toffler por Mafalda Avelar - entrevista editada no Jornal Expresso a 1 de Março 08)
Em entrevista presencial Toffler conclui uma conversa iniciada telefonicamente com Expresso e reafirma, agora com Heidi, algumas das ideias já defendidas anteriormente provando que a “visão” aumenta com a idade.
Entrevista
“ Saber o que significam as palavras: Ser Humano” será o grande desafio que temos pela frente. Esta é a opinião do futurista Alvin Toffler, que esteve esta semana em Lisboa, acompanhado da sua inseparável mulher e companheira intelectual Heide, a convite da Ordem dos Biólogos para discutir a importância da biotecnologia, “que faz parte de uma quarta vaga de transformação da sociedade e da economia”. Conhecido por ser um desenhador de frameworks, que permitem identificar as mudanças que vão ocorrer em termos micro e macro na nossa sociedade, Toffler é um visionário, que nos anos 70 já afirmava que o mundo ia ser controlado por computadores quando ninguém falava de bites e bytes. A Toffler se deve por exemplo a antecipação do declínio da vida familiar, da aceleração do ritmo de vida, da diversificação de informação, do medo do terrorismo, da procura de micro nichos – que substituirão os mercados de massa, entre outros aspectos da vida socio-económica. Em conversa com o Expresso, este intelectual, que lançou em 2006 a sua mais recente obra “A Revolução da Riqueza” (Actual Editora) volta a surpreende por ter uma visão do mundo como que se de uma mão, com linhas bem definidas, se tratasse. Aos 79 anos, com um invejável espírito aberto e global, fala com muita lucidez não só do presente mas sobretudo sobre o futuro. Um futuro onde “A economia não pode ser separada dos factores sociais, dos políticos, dos culturais e dos religiosos” e que na sua opinião será marcado pela grande diversidade de escolhas, de famílias, de produtos. “Caminhamos cada vez mais para uma era marcada pela diversidade” diz este analista que considera que “existem uma série de assuntos intermédios que vão estar na nossa agenda nas próximas décadas tais como a energia e o desafio da religião” porém o grande desafio que vamos ter recairá na nossa escolha sobre o que significam as palavras: Ser Humano. “Temos tecnologias, aplicações e outros factores que vão colocar em causa a nossa definição sobre o que é o Ser Humano. E eu acredito que isso vai dar origem a confrontos globais sobre o uso das tecnologias., que podem na verdade mudar as características das nossas espécies. Isso é a maior batalha que vamos atravessar.” Quem é que é humano e quem é que não pode ser definido como humano por causa da tecnologia e das mudanças genéticas é a grande questão. Numa outra escala de inquietude vem ainda a dessincronização das instituições que fará com que o progresso económico esteja a ser comprometido. Segundo os Toffler, “não podemos ter uma revolução tecnológica sem ter uma revolução social e estrutural”. O que está a acontecer, segundo este casal, é que os modelos institucionais que mantinham a sociedade coesa na fase da era industrial estão a cair e os sistemas burocráticos estão a ser postos em causa. “Chamamos a esta queda sucessiva das instituições (provocada pela dessincronização entre organismos face à terceira vaga) as “Instituições Katrina”, dizem acrescentado que “Quando temos uma revolução tecnológica, os bites e os bytes estão connosco; mas quando queremos mudar a estrutura das nossas instituições…não é fácil.”
Autor de incontornáveis obras tais como “ Future Shock” (1970 - Livros do Brasil), este autor considera que “The Thrid Wave” (1980 – Livros do Brasil) o livro mais importante que escreveu. “Em “O Choque do Futuro” descrevemos o que se estava a passar de uma forma que os outros ainda não tinham analisado. Na “Terceira Vaga”introduzimos uma perspectiva histórica quando fizemos uma ligação entre as mudanças estavam a acontecer na chamada revolução da informação (3 vaga) e as mudanças da revolução agrícola (1 vaga) e da industrial (2 vaga).”
Considerado por vários organismos ocidentais como “o futurista mais influente do mundo”, Toffler é também uma referência no mundo asiático, onde na China, por exemplo está na lista dos 50 homens mais influentes desta economia que considera “o futuro”. País onde a título de curiosidade o seu livro “Future Schok” é a segunda obra mais vendida da história da China só perdendo para os discursos de Deng Xiaoping.
Sobre a “Revolução da Riqueza” Toffler, que afirma conjuntamente com a sua irreverente mulher Heidi que o conceito de família tem que ser pensado de uma forma plural – dizendo que “os gays e as lésbicas devem poder constituir família”, apresenta a ideia nuclear de que a economia está dividida entre economia monetária e economia não monetária, um braço da criação da riqueza onde existem “almoços grátis” e onde os prosumers (produtores e consumidores em simultâneo) bem como os detentores do chamado “o terceiro emprego” (o emprego não remunerado) têm um papel activo na criação da riqueza.
Para terminar o visionário fala da importância de entendermos as actuais crises ( da educação à saúde) de forma interligada e deixa uma crítica aos candidatos à Casa Branca. “ Nenhum dos candidatos diz que as crises estão interligadas”. Vamos ter que pensar em novas formas de organização é a principal conclusão deste casal, que discorda em alguns aspectos, menos na política – “Vamos votar em Obama – não pelas promessas eleitorais do candidato democrata – mas sim “porque é um bom sinal para o mundo ter um presidente negro. Na verdade isto vai mostrar que “ o nosso país tem vindo a fazer progressos em termos de racismo. Por razões simbólicas Obama será um bom presidente e também porque é inteligente”, concluem.