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Sexta-feira, 31 de Agosto de 2012
" A ética tem que ser mais exigente que a lei", afirma José Manuel Fernandes

José Manuel Fernandes, autor do ensaio "Liberdade e Informação" (FFMS), responde "a quatro questões".

 


Considera que hoje existe medo?
(Já não se escreve - nem se diz - tudo o que se pensa com medo de perder, por exemplo, o emprego? Ou, num nível corporativo, o "anúncio"?)

Nas redacções onde trabalhei nunca senti que houvesse medo de perder o emprego por causa do que se escreve - mas senti muitas vezes que havia medo de perder o emprego por falta de rentabilidade das empresas. Já sinto que pode ser diferente a relação com os anunciantes. Não que as tenha vivido, mas precisamente porque existe uma consciência aguda da fragilidade económica das empresas e da sua dependência de alguns grandes anunciantes. Isto não quer dizer que não possam existir condicionamentos, que existiram e existem. Porventura não directamente impostos pelos accionistas, mas assumidos, interiorizados, pelas chefias e às vezes pelos jornalistas. Para existirem não é necessário"ter medo", basta sentir que se deve ser "conveniente", ou então não ser inconveniente. Mas já houve períodos piores. Basta recordar que quando o Público noticiou a licenciatura de Sócrates caiu sobre esta uma semana de silêncio que só foi quebrada pelo Expresso, tendo o caso continuada a ser ignorado na televisão pública, e comparar com o que se passou agora com a licenciatura de Relvas, onde os órgãos de informação agiram com muito mais liberdade.

De que forma é que a liberdade de imprensa, é hoje, condicionada?

Considerando apenas o caso português - no mundo há situações muitíssimo mais graves -, sinto que a liberdade de imprensa é muito condicionada pela fragilidade económica das empresas e pelo uso e abuso do recurso aos tribunais para processar jornalistas e comentadores. Contudo há um factor de quase nunca se fala e que me parece igualmente muito importante: a existência nas redacções de uma cultura dominante "politicamente correcta", que vê com maus olhos aqueles que têm opiniões diferentes, e a preguiça intelectual que leva a que todos andem atrás dos mesmos temas, das mesmas reacções, das mesmas declarações, numa cacafonia insuportável. A consequência destes dois vícios internos das redacções é a falta de pluralismo existente. O pluralismo é condição e consequência da liberdade, e o pluralismo não deve medir-se apenas pela variedade de comentários e opiniões, deve também traduzir-se em pluralismos de olhares jornalísticos, em pluralismo, de agendas mediáticas, em pluralismo de abordagens, e disso temos muita falta. É tudo demasiado igual na maioria das redacções, porque os jornalistas pensam quase todos da mesma maneira e acham todos que têm sempre razão.


Sentimento de impunidade. Como é que este sentimento afecta a democracia?

A democracia não é apenas o governo da maioria - é também o regime do governo limitado pela lei e pela existência de mecanismos de freis e contrapesos (checks and balances). Muitas vezes esquecemos que o governo da maioria é a tirania, o que permite que muitos actores políticos busquem a legitimidade do voto para escaparem impunes. Por isso o nosso primeiro problema não é o sentimento de impunidade, é a própria impunidade. Ela corresponde a uma denegação da Justiça e à existência de situações em que o poder não é, de facto, limitado pela lei. Quando a opinião pública se apercebe da impunidade de alguns poderosos, descrê da Justiça, o que significa que descrê da democracia. É por isso que eu defendo que a ética não é apenas a lei, como alguns defendem. A ética tem de ser mais exigente do que a lei, pois o princípio da limitação de poderes começa na auto-limitação dos poderosos. É também por isso que se diz que ele devem dar o exemplo, e dar o exemplo é mais do que limitar-se a cumprir a lei.

Liberdade e Informação. Que relação existe?

Não há liberdade sem acesso à informação. Não há boa informação sem liberdade. Um mundo de homens livres é um mundo de homens informados que fazem as suas opções em consciência, não na ignorância. Um mundo de livre acesso à informação é um mundo onde se considera que o pluralismo é a condição natural do ser humano, que é a sua riqueza por derivar do seu carácter único. Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos Estados Unidos e que era muito crítico da qualidade dos jornais, disse um dia que se tivesse de decidir ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não vacilaria um instante em preferir o último. E disse-o porque sabia que o bom governo só existe quando está sob pressão da opinião pública informada.

 

Respostas publicadas na edição de 30 de Agosto do DE. 

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 15:08
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Ex-Ministro da Educação escreve "Difícil é Educá-los"

 

 

David Justino, autor do ensaio "Difícil é Educá-los", responde a "três questões".

 


1. Qual o papel da educação para o desenvolvimento económico e social de um país?

 

 

Há uma relação estreita entre desenvolvimento e aumento significativo do capital humano. Não se entenda por desenvolvimento o mero crescimento económico, nem por capital humano a maior ou menor disponibilidade de mão-de-obra. A questão terá de ser colocada a um nível mais complexo. A investigação tem-nos ensinado que não basta ter mais educação (maiores taxas de escolarização da população ou maior despesa nesta atividade), sendo indispensável falarmos em melhor educação, ou seja, uma maior capacitação das novas gerações de forma a responder aos desafios e aos objectivos de desenvolvimento económico e social de um país. Não basta educarmos mais para atingirmos níveis mais elevados de desenvolvimento económico, nem basta sermos mais ricos para termos melhor educação. Educação e desenvolvimento têm de ser convergentes nos princípios e nos fins, têm de se potenciar mutuamente.

 

Vamos dar um exemplo. De que serve termos cada vez mais licenciados em organização e gestão de empresas se a estrutura empresarial não tem capacidade de os absorver? Ou, por outro lado, se as suas qualificações não corresponderem ao nível de desenvolvimento organizacional e tecnológico do país? Os atuais problemas de desemprego entre licenciados tem muito a ver com a falta de coordenação entre quem forma esses licenciados e quem os emprega. Infelizmente não é uma situação meramente conjuntural, é de carácter estrutural por falta de uma visão de longo prazo.

 

2. O que falha em Portugal (em termos educativos) ?

 

O mesmo que falha nos restantes sectores: incapacidade de mobilizar e organizar recursos para objectivos de médio e longo prazo. Porque é que a educação teria de ser diferente dos problemas de competitividade empresarial, da organização social ou do desenvolvimento cultural? Durante décadas apenas nos centrámos em ter mais educação e só mais recentemente tentamos melhorar os níveis de desempenho em comparação com os nossos parceiros internacionais. Em vez de nos preocuparmos com a qualidade das aprendizagens, andamos preocupados com problemas acessórios como o fecho de escolas, os agrupamentos, os concursos de professores. Tudo isto é instrumental.

 

O que nos falta é uma visão de futuro para a educação que permita sustentar um modelo de crescimento económico que também ninguém quer saber qual vai ser. Daqui a 15 anos, que é o tempo médio necessário para formar uma nova geração, que tipo de profissionais é que a economia vai precisar? Com que perfis de formação? Em que quantidade? O que se invoca para as necessidades da economia pode-se invocar para a formação cultural, ou para os mais variados domínios da sociedade?

 

Que tipo de conhecimentos e competências serão críticas daqui a duas décadas? O que se deve valorizar, a acumulação de conhecimentos ou o desenvolvimento da capacidade de pensar os problemas ( que não dispensa a aquisição de conhecimentos, como é evidente!)? Qual a importância das línguas estrangeiras?

Como desenvolver a cultura científica?

 

São estas questões que precisam de ser respondidas, mas será bom que o sejam numa perspectiva integrada e com uma visão de futuro. O tempo da educação não se compadece com o imediato nem com o mediático. É um tempo bem mais longo e por vezes imperceptível. Exige visão, estratégia e um consenso alargado entre as diferentes forças sociais de forma a estabilizar as grandes opções. É isso que tem faltado em Portugal.

 

 

3. O que se pode fazer para melhorar o atual estado da educação?

 

O que tentei demonstrar no meu livro é que temos progredido no que respeita a “mais educação”. Temos aumentado a escolarização tornando-a mais vez mais generalizada entre a população e com mais tempo de frequência, temos vindo a reduzir os níveis de abandono e de insucesso escolares, temos melhores estabelecimentos escolares e uma rede que tem vindo a ser adequada às novas realidades das populações e do território.

 

Começa a chegar a altura de pensarmos prioritariamente no que se ensina e no que se aprende, como se ensina e como se aprende de forma a aumentar a qualidade da formação e a tornar as novas gerações melhor preparadas para enfrentar os desafios do futuro. Muitos desses desafios nem sequer os adivinhamos. Por isso precisamos de lhes transmitir uma sólida formação de base em que a capacidade de pensar e resolver problemas possa ser valorizada, em que os hábitos de trabalho, o rigor e a disciplina, a abertura perante o mundo e a defesa da nossa identidade como povo, possam ser as traves mestras de uma cultura assente no conhecimento, na ciência e na capacidade de nos integrarmos nos grandes movimentos globais.

 

Teremos de fazer tudo isto numa escola que terá de ser muito diferente daquela que conhecemos. Teremos de superar a velha unicidade educativa imposta de cima para baixo, característica do velho “Estado Educador”, para promover estruturas de ensino diferenciadas, que resultem das respostas das escolas à complexidade social e cultural das populações. Teremos de ter escolas mais atentas e mais cooperantes com as necessidades das comunidades locais, das empresas, e das organizações sociais. Isto exige maior descentralização, maior diferenciação educativa, mas também maior responsabilidade e mais avaliação.

 

Vamos ter de reinventar o sistema de ensino. Quanto mais tarde o fizermos, mais atrasados ficaremos.

 

 

 

 

Estas respostas foram editadas e publicadas no DE.






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publicado por Mafalda Avelar às 11:43
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"A Classe Média: Ascensão e Declínio"

Publico, hoje, neste espaço as respostas dadas, na íntegra, pelo Professor Elísio Estanque, autor de "A Classe Média: Ascensão e Declínio", livro da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que pode comprar, hoje, com o DE por mais 2,4 euros.

 

 

Como caracteriza a nossa classe média? E qual tem sido a sua evolução?

A classe média assalariada (a que alguns chamam “nova” classe média, para distinguir da pequena burguesia empresarial), é composta essencialmente por funcionários, quadros e empregados do setor terciário. O seu crescimento é, por assim dizer, fruto da terciarização da economia e dos processos de concentração urbana que em geral lhe estão associados. Os pequenos empresários e os profissionais liberais também fazem parte da classe média – que se distingue, por um lado, dos trabalhadores manuais e das camadas mais pobres e, por outro lado, também não integra as camadas superiores –, mas o grosso dessas categorias passou a ser constituído por esses profissionais intermédios, qualificados e semi-qualificados da força de trabalho. Se nos países mais desenvolvidos o crescimento da dita classe média foi parte de um processo longo de sedimentação das qualificações e de expansão do progresso técnico e das políticas sociais, em países de desenvolvimento tardio e intermédio, ou seja, casos como o português, em que a modernização além de tardia e muito incompleta permaneceu articulada a formas de organização mais tradicionais, o esforço desenvolvimentista ficou sobretudo na dependência das politicas públicas e do papel do Estado. Daí que, em Portugal, a classe média tenha crescido em larga medida á sombra o Estado. Até porque o nosso atraso nos anos setenta era de tal ordem que a transição democrática e a tentativa de desenvolver o país – com políticas sociais na Educação, na Saúde, na Segurança Social, no Emprego, etc. – teria de exigir uma grande intervenção do Estado. O problema é que esses investimentos não foram convenientemente absorvidos pela sociedade civil nem deram lugar a uma economia mais inovadora e competitiva. Os progressos conseguidos continuaram muito dependentes do esforço de investimento público, e entretanto a estabilidade laboral, a segurança e a proteção dos direitos que conferiram à “classe média” (ao funcionalismo público, sobretudo) esse estatuto, começaram a ser abalados, primeiro com o excessivo endividamento, privado e público, e depois com o acentuar do nosso défice, da crise financeira e da austeridade revelaram-se as enormes fragilidades da classe média. Tornou-se então claro que o sonho da classe média começou a esfumar-se e, afinal, o próprio estatuto social dessas camadas era, em boa medida, fictício.

 

Em Portugal existe pobreza envergonhada?

Existe. E o meu livro aponta vários exemplos disso mesmo, de resto, muitos deles relatados na imprensa. As famílias e os indivíduos a dada altura incorporaram um “status” de uma condição “remediada” e que mereceu a consideração (ou até a inveja) de conhecidos, vizinhos, familiares o que, agora, perante as dificuldades e carências económicas inesperadas, lhes coloca acrescidas dificuldades no plano psicológico. A imagem projetada para o exterior entra em conflito com a realidade de um orçamento familiar que já não consegue sustentar esse estatuto de desafogo. Por isso, em muitos casos recorre-se à assistência, mas isso é feito às escondidas por forma evitar o encontro com os grupos mais pobres e miseráveis com quem os que já foram (e ainda se sentem) membros da classe média não aceitam ser confundidos.

 

Em termos sociológicos – e económicos – é possível distinguir miséria de pobreza?

Diria que na pobreza, apesar das dificuldades e da “ginástica” que uma família pobre tem de fazer, ainda pode conseguir suprir as necessidades elementares, porventura com alguma ajuda (institucional ou caritativa), enquanto a miséria é já uma condição degradante do ponto de vista do bem-estar, onde as necessidades primárias não conseguem ser satisfeitas e, por isso mesmo, a miséria estende-se do plano económico para o psicológico ou até físico. Porque atrás da miséria está a fome e a doença.

 

 

Um País sem classe média tem tendência, a médio prazo, a “morrer”? Ou são possíveis milagres?

A classe média integra grupos muito distintos no seu seio. Mas não é só a questão financeira que conta. O empobrecimento de uns, a contenção e o risco de cair na penúria de outros, a revolta daqueles que, apesar das dificuldades, se possam aguentar ou ainda o fechamento em soluções individualistas de muitos outros compõem uma panóplia de possíveis reações. Porém, as respostas desses grupos, desencantados e frustrados com o poder económico e político podem também derivar para a contestação coletiva, engrossando movimentos, protestos e revoltas mais ou menos radicais. Um contexto de forte descontentamento e de saturação face às instituições e aos agentes do sistema (partidos políticos) é propício ao surgimento de propostas salvíficas e a discursos populistas que podem resultar em ditaduras. E estas camadas descontentes podem servir de rastilho, arrastando consigo os restantes setores populares, os desempregados e os excluídos que o eram antes da crise. Sem classe média nenhuma democracia consegue aguentar-se por muito tempo. Mas a classe média também atua coletivamente e pode ajudar a fazer revoluções.

 

Qual a importância deste sua obra?

Penso que ajuda a compreender melhor o significado – passado e futuro – da classe média e a perceber a própria origem do conceito em termos sociológicos. No fundo, quero acreditar que quem ler este livro fique na posse de um conhecimento mais informado e uma perspetiva mais critica sobre a sociedade portuguesa, inclusive que passe a olhar a “classe média” não só como uma categoria que aceita e adere aos princípios do mercado e da economia capitalista, mas também como uma força transformadora e que participa ativamente na mudança social e política.

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 08:00
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Terça-feira, 28 de Agosto de 2012
"O Estado português já há muito mostrou incapacidade para combater a corrupção"



"O Estado português já há muito mostrou incapacidade para combater a corrupção". É assim que Fernando Catroga inicia a sua resposta à pergunta: "Como analisa, hoje, o estado do nosso Estado?"



Leia abaixo "Três perguntas ao autor".


Fernando Catroga é autor de " Ensaio Respublicano", livro que pode comprar hoje com o DE.




"Res publica". O que significa?

“Res publica”, “coisa do povo”, foi como os romanos traduziram a palavra grega politeia para designar a solução que, contra a tirania, a oligarquia, a demagogia e a corrupção, queria combinar o melhor das “constituições” clássicas (monarquia, aristocracia, democracia) com a finalidade de envolver, na realização do bem comum, todos os que gozavam de direitos de cidadania. Mais do que um regime político, visava-se subordinar a política à ética do interesse geral. Porém, hoje, se, para alguns, esta continua a ser prioritária, para outros, o empenhamento na “coisa pública” deve limitar-se a ser um instrumento ao serviço das estratégias individuais. Todavia, ter-se-á de perguntar se a sua utilização, como se de um mero somatório de apropriações privadas se tratasse, não é contraditória. A sociedade, que não é de ninguém, tem pelo menos a obrigação de garantir as condições que, perante as desigualdades de nascimento, possibilitem o acesso à igualdade de oportunidades.

 

 

 

Qual a diferença entre a noção de pátria, de Estado e de nação?

A pátria, “terra dos pais”, remete para a ideia de origem. Matriz da memória primordial, a experiência do tempo que a sua evocação desencadeia implica uma espacialização que faz com que a pátria também seja a paisagem. Porém, já Cícero lembrava que os cidadãos romanos tinham duas pátrias – a “pátria local” e a “pátria comum”, de origem cívica e prioritária em relação àquela.

A nação vem depois do sentimento de pertença a uma ou mais pátrias. O termo aponta para “nascer” e, durante séculos, foi apenas aplicado a pequenas comunidade singularizadas pela compartilha da mesma língua e por características étnicas e religiosas específicas (exemplo: os judeus como “povo de nação”). No entanto, em alguns casos, a sua semântica também começou a nomear um corpo político autónomo, totalidade psico-colectiva que tinha em si os seus fundamentos com as novas teorias do contrato social e da soberania política. E estas mudanças, mesmo quando se pressupunha a existência de uma “nação orgânica” ou de uma “nação cultural”, conduzirão aos conceitos de “nação popular” e de “nação cívica”, sobretudo após o forte impacto da Revolução Francesa.

Em simultâneo, ocorreu o fenómeno da estadualização da política devido às novas exigências de racionalidade burocrática e de homogeneização do domínio sobre um território e uma população decorrentes da despatrimonialização do poder.

Com isso, a ideia moderna de nação emergiu como elo entre o calor emanado pela ideia de pátria e a frieza do Estado. Recorde-se que este pode governar várias pátrias e até nações, e que, desde cedo, lhe foi atribuída uma “razão” e equiparado, não a uma mãe, mas a um a um “navio” e a uma “máquina”. Por sua vez, para se consensualizar, a nação foi fomentando, através dele, a hegemonia do patriotismo nacional. Mas, se ela necessita do colo de, pelo menos, uma pátria, nem toda pátria requer uma nação e um nacionalismo.

 

Como analisa, hoje, o estado do nosso Estado?

O Estado português já há muito mostrou incapacidade para combater a corrupção, mesmo no seu interior, sinal de que a sua prática se afastou da realização do bem comum e, portanto, da igualdade e da equidade. Daí que, hoje, com a crise, se assista a uma dolorosa socialização dos prejuízos directamente proporcional à privatização, de facto, do que é público, isto é, tanto dos benefícios e das ajudas externas, como de muitas das decisões dos governos. O que fez crescer a convicção de que estas, ainda que falem em nome de todos, estão ao serviço dos interesses de minorias, consequência de enraizadas cumplicidades entre boa parte da classe política e um tipo de capitalismo que, apesar de liberal nos princípios, só se reproduz com o apoio da mãozinha visível ou invisível do Estado.

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 00:05
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Terça-feira, 21 de Agosto de 2012
"Sondagens, Eleições e Opinião Pública"

 

Pedro Magalhães é autor de "Sondagens, Eleições e Opinião Pública".


Pode adquirir, hoje, este livro com o DE. Por mais 2,4 euros.




Devem as pessoas acreditar em sondagens? Porquê?

 

Uma das coisas em que mais insisto no livro é na ideia de que aquilo que as pessoas pensem sobre as sondagens não deve estar baseado em “crença” ou “descrença”. O objectivo do livro é precisamente o de dar aos leitores, de forma simples, alguns dos instrumentos de que necessitam para poderem olhar para cada sondagem e para o seu conjunto de forma crítica, percebendo as suas potencialidades e limitações, e ficando a saber que aspectos (dimensão da amostra, método de amostragem, questões utilizadas, etc.) afectam os resultados. Sabendo isto, deixa de ser necessário olhar para as sondagens sob o ponto de vista da “crença” ou da “descrença.” Esses são termos adequados para discutir questões religiosas, espirituais, ou morais, não para atividades que lidam com factos e dados empíricos.


As Margens de Erro são uma desculpa ( que serve para quase tudo justificar)?

A existência de erro amostral resulta do facto de, numa sondagem, se usar informação recolhida junto de uma parte (a amostra) da população relevante para fazer inferências sobre toda essa população. Trata-se, por isso, de algo que tem de ser comunicado muito claramente, para que se perceba que, quando se quer dizer algo sobre uma população com base numa amostra, há sempre um preço a pagar: algum grau de incerteza. A vantagem das sondagens, contudo, é que essa incerteza pode ser estimada rigorosamente, ao contrário do que sucede quando damos um mero palpite. É isso que significa apresentar "margens de erro": incerteza, mas estimada rigorosamente. De resto, isto aplica-se a todas as medições de qualquer fenómeno, social ou natural, onde se use um número limitado de casos para fazer uma inferência sobre o todo. Só quem não compreende isto pode querer usar o erro amostral como “desculpa” ou interpretar a sua apresentação como tal.


Qual a relação entre "Sondagens" e "Democracia"?

As sondagens de opinião dão-nos informação sobre o que pensam os nossos concidadãos, e essa informação pode ser-nos útil para tomarmos as nossas próprias decisões numa democracia. Cada um de nós move-se num círculo social limitado, e é fácil formar convicções erradas sobre o que pensam os restantes membros da sociedade se nos basearmos apenas naqueles com quem convivemos. As sondagens de opinião ajudam a corrigir esse enviesamento natural, alargando e rectificando a nossa visão da sociedade. Para além disso, elas ajudam a contrabalançar afirmações muito comuns no discurso político, sobre o que “os portugueses pensam” ou “os portugueses querem,” geralmente baseadas em pouco mais do que os desejos daqueles que as proferem. Finalmente, importa não esquecer que a metodologia dos inquéritos por questionário é usada em muitas outras coisas para além dos estudos de opinião: grande parte da informação estatística sobre a sociedade e a economia portuguesas baseia-se nessa metodologia. Sem essa informação, a responsabilização política daqueles que nos governam seria certamente mais deficiente, e assim seria mais deficiente a nossa democracia.

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 08:08
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Sexta-feira, 10 de Agosto de 2012
"Filosofia em Directo"

Publico, hoje, neste espaço as respostas dadas, na íntegra, pelo Professor Desidério Murcho ao Diário Económico.

 

Desidério Murcho é autor de "Filosofia em Directo", ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que pode comprar, hoje, com o DE por mais 2,4 euros.




Até que ponto é que a Filosofia é uma necessidade?

 

Para quem tiver curiosidade intelectual, a filosofia é fascinante porque se trata de investigar com todo o rigor o que não é insusceptível de ser conhecido nem experimentalmente, como acontece na física, nem matematicamente.

 

Contudo, uma actividade pode ser importante mesmo para quem não tem interesse nela. Ora, a filosofia é importante mesmo para quem não tem interesse nela porque uma parte importante do nosso modo de vida actual resultou de algum trabalho filosófico. Darei alguns exemplos já de seguida, mas é importante ressalvar desde já que há muitas áreas da filosofia que não têm qualquer interesse excepto para quem tiver curiosidade intelectual. E não há problema algum nisso. Todavia, há outras áreas da filosofia que são do interesse mesmo de quem não se interessa por filosofia. Por exemplo, a ideia de que as mulheres devem ter precisamente os mesmos direitos políticos e económicos do que os homens foi defendida por um filósofo do séc. XIX, John Stuart Mill; foi ele também que defendeu a liberdade de expressão. Estas duas ideias hoje parecem-nos óbvias, mas no séc. XIX estavam longe de ser óbvias; e talvez nunca se tivessem tornado óbvias se não tivessem sido discutidas filosoficamente. Também hoje nos parece óbvio que a Terra não está no centro do universo, mas foi preciso muito trabalho científico para se tornar óbvio.

 

Finalmente, a importância da filosofia para quem não tem interesse em filosofia é também o seguinte: em filosofia aprendemos a raciocinar e a teorizar intensamente sobre problemas que não podem ser resolvidos recorrendo à experimentação científica nem ao cálculo matemático; ora, muitos dos problemas importantes que queremos ver resolvidos, por vezes bastante práticos porque são problemas sociais, políticos e económicos, não podem ser abordados recorrendo à experimentação científica nem ao cálculo matemático. Saber raciocinar e teorizar intensamente, algo que se aprende a fazer quando se aprende filosofia apropriadamente, é por isso crucial.

 

Qual a razão para que, e na generalidade, seja mais fácil desistir do que insistir?

 

Penso que essa é uma pergunta para os psicólogos ou para os sociólogos. A mim parece-me óbvio que qualquer actividade que exija concentração e esforço, intelectual ou físico, exige a ultrapassagem da preguiça e do imediatismo facilitista em que muitas pessoas vivem mergulhadas (com todo o direito a isso!). Mas há outra razão que faz as pessoas desistir dos problemas da filosofia, e chama-se a isso “cientismo”: é a ideia de que ou um problema pode ser resolvido cientificamente ou não vale a pena pensar nele. Deveria ser óbvio que, com esta mentalidade, nunca a própria ciência teria sido inventada, pois antes de esta existir, por definição, os problemas não eram susceptíveis de resolução científica.

 

Qual o papel da Filosofia num mundo em crise? Conseguiremos enfrentar “a vida” com mais garra usando a filosofia?

 

Filosofia não é psicologia, nem é auto-ajuda para-religiosa; não tem coisa alguma a ver com dar garras às pessoas, com ou sem crise. Mas tem a ver com aprender a raciocinar melhor, e isso pode ser crucial para descobrir boas soluções imaginativas para a crise económica contemporânea. Tivessem os economistas e responsáveis políticos uma formação que lhes permitisse raciocinar e teorizar melhor, e talvez nunca tivéssemos entrado nesta crise. E agora que estamos nela, precisamos de saber raciocinar e teorizar para encontrar saídas adequadas, e para aprendermos com a experiência. 

 

 

 

 

 

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Sexta-feira, 3 de Agosto de 2012
"Portugal: os Números"

"Portugal: os Números", de Maria João Valente Rosa e Paulo Chita, é o livro, hoje, em destaque no Diário Económico.

 

De notar que poderá, hoje, adquirir esta obra com o DE, por mais 2,4 euros.

 

Fique com as "três perguntas aos autores":

 

 

 

 

 



Quais os números mais marcantes da nossa sociedade?

 

O nosso país em nada se assemelha, hoje, ao que foi nos últimos 50 anos, o período analisado no ensaio Portugal: Os Números.

 

A população envelheceu a um ritmo sem precedentes. Tornámo-nos um dos países mais envelhecidos do mundo, resultado de uma intensa diminuição da fecundidade dos casais, do aumento da esperança média de vida e de uma emigração particularmente intensa, em especial nas idades activas mais jovens, também elas mais férteis. A família, ou melhor, as famílias adquiriram novos contornos, o casamento foi perdendo o seu papel de regulador dos nascimentos e tornou-se menos duradouro.

 

Escolher os números mais marcantes não é tarefa fácil, pois qualquer deles espelha um pouco da complexa trajectória da sociedade portuguesa nas últimas décadas. Nas mais diversas áreas, Portugal não teve uma evolução linear e unidireccional. Tem sido um país a dois tempos, com áreas que são exemplos mais bem sucedidos – como a qualificação escolar (embora esta se situe ainda muito aquém do nível atingido noutros países) ou a generalização do acesso à protecção social a grupos que durante muito tempo dela estiveram excluídos –, e outras menos bem sucedidas – como a justiça (a morosidade com que os processos são decididos tornou-se crítica) ou a economia (até 1974, o PIB português cresceu a uma boa velocidade mas não havia liberdade; após 1975, em democracia, entramos numa fase de altos e baixos e o crescimento desacelerou ou estagnou, sobretudo depois da adesão ao Euro).

 

Onde entra o fator humano nas estatísticas?

 

As estatísticas são os números mais humanos que conhecemos. São a expressão dos comportamentos e das características de todos: as pessoas dão origem às estatísticas e não o contrário! As estatísticas reproduzem realidades colectivas não percepcionadas de outro modo, abrindo espaço para o conhecimento, capacidade também ela humana. As estatísticas ajudam-nos a conhecer melhor o que somos como sociedade e também a compreender os nossos comportamentos como indivíduos. E às vezes têm erros. Mas como errare humanum est, na verdade não podiam ser mais humanas...

 

Pode um país ser orientado só para os números?


Longe vai o tempo em que os teorizadores ou pensadores da realidade social se baseavam nas suas reflexões de sofá. É tão impensável uma interpretação sem confrontação com os factos (traduzidos pelos números), como é impensável defender que a informação quantitativa pode valer por si e prescindir de análise teórica.

Felizmente, os únicos casos de negação ou de desprezo face aos números provêm, hoje, de situações tão lamentáveis quanto raras: os dirigentes, pertencentes normalmente a regimes ditatoriais – mas não só –, que escondem números para iludir a opinião. Juntemos-lhe os casos dos indivíduos que desdenham a informação quantitativa com base numa ignorância básica de Estatística, ou seja, por não a saberem analisar e compreender.

 

 

 

 

 

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Quinta-feira, 2 de Agosto de 2012
" Economia Portuguesa: as últimas décadas"


"Economia Portuguesa: as últimas décadas", da autoria de Luciano Amaral, é o livro em destaque hoje.

 

 

Leia na íntegra "cinco perguntas ao autor".



Será que a austeridade vale a pena?


Livro analisa a evolução da economia portuguesa desde os anos finais do Estado Novo até à actualidade. Em entrevista, autor fala do preço a pagar para estarmos na UEM.


O que mais destaca nas últimas décadas?

Destaco o comportamento errático da economia portuguesa, depois da grande recuperação face às economias mais desenvolvidas ocorrida entre os anos 50 e 1973. Desde este último ano que a economia portuguesa alternou períodos de recuperação forte (1977-1980 e 1986-1992) com períodos de estabilização da diferença (1992-1999) e períodos de franca queda (1973-1977 e, sobretudo, 1999-2012). Neste quadro geral, é particularmente preocupante o longo retrocesso que vem do início do século XXI e que já nos fez recuar, em termos de riqueza comparada, à década de 70 do século XX.

 

Os últimos dez anos serão mesmo uma década perdida?

Em termos de evolução comparada da economia, os últimos dez anos (ou melhor, os últimos doze) são realmente uma década perdida. Se em si mesma essa evolução negativa já seria preocupante, é-o ainda mais por resultar em grande parte da nossa participação na União Económica e Monetária (UEM), a qual se apresenta agora como um projecto político e económico difícil de sustentar. Ou seja, pagámos um grande preço para participar nesse projecto, continuamos a pagá-lo agora e provavelmente pagaremos um preço ainda maior no futuro próximo. A grande questão que se coloca hoje, perante o programa de austeridade que está a ser aplicado no país, é saber se ele vale a pena, nomeadamente como condição para continuarmos a participar na UEM. Ou seja, será que vale a pena fazer este esforço para ser membro de um clube que tem graves características de disfuncionalidade e que pode mesmo estar condenado a desaparecer rapidamente? Em breve saberemos, mas a minha opinião é pessimista: se calhar não vale a pena, pelo menos nos termos em que o estamos a fazer.

 

Factores positivos da nossa economia?

Somos uma economia desenvolvida, com mão-de-obra relativamente flexível e pronta a adaptar-se. É uma mão-de-obra cada vez mais qualificada e capaz de reagir aos estímulos que lhe são apresentados. Temos instituições razoavelmente funcionais e que têm melhorado com o tempo.

 

Factores negativos da nossa economia?

Temos uma produtividade relativamente baixa, apesar dos aspectos positivos anteriores. Isto resulta sobretudo de uma baixa dotação de capital pela mão-de-obra existente. Ou seja, precisamos de mais investimento. Na ausência deste, temos de reduzir a densidade de mão-de-obra pelo capital existente, o que infelizmente já se está a verificar através de uma crescente emigração. O investimento aumentaria se as perspectivas de expansão da economia fossem positivas, mas desafortunadamente não o são, porque a nossa baixa produtividade limita a nossa competitividade e porque estamos numa área monetária que não facilita o crescimento das nossas exportações. É ainda um longo caminho, talvez demasiado longo para a situação de urgência em que nos encontramos.

 

Como resume sumariamente a importância desta obra?

Destacaria três aspectos: o primeiro, é que se trata de uma tentativa de fazer um retrato histórico da economia portuguesa desde o 25 de Abril numa linguagem acessível a muita gente. Nesse sentido, grande parte do mérito não é do autor mas dos editores, que impuseram esse formato de forma bastante estrita. O segundo aspecto é que, apesar da sua vocação popular, levanta questões importantes tanto para o mundo académico como político. O terceiro aspecto é que, tendo sido redigida ainda antes dos contornos mais gravosos da actual crise se terem tornado óbvios, levanta os principais problemas e dilemas com que a economia portuguesa se confronta na actualidade.

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 05:07
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Quarta-feira, 1 de Agosto de 2012
"O Ensino do Português"

 

 

Maria do Carmo Vieira é a autora de "O Ensino do Português", livro que poderá adquirir, hoje, com o Económico.

 

Leia a entrevista à autora, publicada, neste espaço, na íntegra.

(Maria do Carmo Vieira é hoje, também, a autora em destaque na pág.3 do DE, dedicada durante o mês de Agosto à iniciativa "Livros /Verão", que junta a Fundação Francisco Manuel dos Santos e o Económico.)

 

 

 

 


"A língua portuguesa tem sido muito maltratada”


Neste ensaio a autora analisa o ensino do Português desde o 25 de Abril de 74. Em entrevista considera “imperioso” suspender o AO.



Qual o actual estado da nossa língua?

 

A língua portuguesa tem sido muito maltratada, sendo ostensivamente mal falada pelo contágio da falta de cultura e da ignorância que grassa. Situação flagrante foi a imposição do Acordo Ortográfico (AO), contrariando a exigência de debate, a vontade dos portugueses, os pareceres de Instituições relevantes, nomeadamente o MEC, as intervenções fundamentadas de linguistas. «Vendeu-se» a língua portuguesa a interesses mal escondidos e a isso chamou-se «preocupação pela língua», num carnaval de palavras, bem em sintonia com a Nota Explicativa do referido AO que classifica de «teimosia lusitana» o facto de termos mantido as consoantes mudas. Exige-se recuo nesta aventura que continua a esbanjar somas avultadas, mas até agora nunca assumidas, trazendo o caos ao ensino do Português. Por isso seria tão importante que todos e, em especial, alunos, professores, associações de pais e deputados se unissem contra este desvario. Existe também uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos que podem consultar em www.ilcao.cedilha.net

 

 

 

Que tipo de acções concretas melhorariam (já no curto prazo) o estado da “nossa língua”?

 

 

Suspender o AO seria imperioso porque não é boa prática cada um escrever como lhe aprouver, destruindo-se a ortografia da língua portuguesa. Imprescindível também é a concretização de uma boa formação de professores de Português, em que o estudo do Latim não pode estar ausente, e a elaboração de novos programas para o Básico e Secundário, libertos da avalancha de «descritores de desempenho» absurdos e de teorias que formatam os professores.

 

Não será com rapidez que a presente situação se resolverá, mas com vontade, seriedade e diálogo.

 

 

 

 

 

Qual a maior crítica ao Ensino do Português? Existem culpados?

 

 

 

Todos seremos culpados. Uns porque fazem mal, outros porque permitem, resignando-se. É inegável que a proliferação de reformas, longa manta de retalhos, desleixadamente alinhavada ao longo dos anos, teve desastrosas consequências no ensino, e especificamente no ensino do Português. Com efeito, surdos à exigência de um diálogo com os professores, descura-se as suas várias chamadas de atenção para o facto de grande número de alunos acabar o 1º ciclo sem saber ler e escrever de forma minimamente correcta, o que se repercute, como é natural, nos ciclos seguintes. Mantêm-se programas extensíssimos, muitos dos quais mal elaborados e sem qualquer fio condutor, impedindo um trabalho sério com a escrita e com a própria leitura de textos, sobretudo literários que aparecem em pé de igualdade com uma avalancha de textos funcionais e informativos. A agravar a situação, tem-se descurado a Gramática, privilegiando a TLEBS (implementada do 1º ciclo ao secundário) que apenas confunde os alunos e não permite qualquer reflexão sobre a língua, como se pretendia. O certo é que não se dominando bem a língua, não é possível expressar o pensamento e é nos textos literários que a qualidade da língua sobressai porque a literatura é a arte da palavra. Sabendo-se interpretar um texto literário, o que exige leitura, tempo e treino, saber-se-á escrever um texto funcional. O contrário é que certamente não acontecerá.

 

 

 

 

 

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publicado por Mafalda Avelar às 07:05
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