Contra factos não existem argumentos. E é indiscutível que em Portugal, nos últimos anos, temos assistido a uma onda massiva de interesse pelo mercado editorial. Muitos grupos estão a apostar forte, outros tentam diversificar o seu portfolio de obras, muitos grupos abrem chancelas dentro da mesma marca e chegamos mesmo ao ponto de não saber a que grupo pertence a editora X, Y ou Z. Muito menos fácil parece ser o entendimento de como é que as editoras sobrevivem em tempos de crise e de mudanças de paradigmas? Afinal será que o mercado do livro existe como mercado industrial que dá bons retornos? Será que os conceitos “edição de livros” vs “gestão estratégica” podem viver lado a lado (contradizendo uma ideia passada de que ambos eram “incompatíveis”)? Quais as estratégias empresarias que existem e o que se pode fazer? “A Edição de Livros e a Gestão Estratégica”, de José Afonso Furtado, director da Biblioteca da Arte da Fundação Gulbenkian, desde 1992 e professor do curso de Pós-Graduação em Edição – Livros e Novos Suportes Digitais, da Universidade Católica, é um dos raros casos literários que discute esta temática. Dividido em seis capítulos (i. Da emergência da gestão ao planeamento estratégico; ii)A gestão estratégica e o conceito da vantagem competitiva; iii)A vantagem competitiva e o sector da edição de livros; iv) Alterações ambientais: uma mudança de paradigma; v)Transformações no sector da edição de livros; e vi) A vantagem competitiva e a nova realidade dos sistemas de criação de valor) este livro é essencial para todos aqueles que pretendem entender as dinâmicas deste mercado ainda tão pouco conhecido. Um mercado fascinante, tradicionalmente impulsionado por apaixonados e que vê agora a necessidade de ser, mais do que nunca, estudado por modelos económicos. Como o autor, que exerceu o cargo de Presidente do Instituto Português do Livro e da Literatura (1987 - 91) refere o consumidor está a mudar e as editoras deveriam acompanhar essa mudança. Isto porque, esclarece Furtado, “A indústria da edição tem zonas com taxas de retorno altamente compensatórias, mas que não são propriamente aquelas que nós conhecemos melhor em Portugal - e não são essas as generalistas.” Por exemplo a edição das revistas universitárias e cientificas – que é certamente as que têm maior retorno e onde as tecnologias digitais neste momento são dominantes - deveriam ser uma aposta das nossas editoras, lê-se na entrelinhas da conversa com este mestre da gestão estratégica de um bem precioso: o mundo da edição.