Sábado, 25 de Novembro de 2006
"O Livro que me Marcou" - João Castello Branco
"The Art of Possibility:Transforming Professional and Personal life"(2000), de Rosamund e Benjamin Zander, é um dos livros que mais marcou João Castello Branco, Sócio- Director da McKinsey em Lisboa.
Para este engenheiro mecânico de formação "existem muitos livros que me marcaram mas escolhi este, que li recentemente, porque desenvolve uma tese em que acredito e que penso que tem muitas implicações . É uma tese que está na intersecção entre o pessoal e o empresarial". A obra escolhida é de um maestro que utiliza a sua experiência na direcção de orquestras para falar sobre liderança, sobre transformação pessoal e sobre aquilo que Castello Branco traduz como a arte de "fazer coisas excepcionais com gente normal". "Tudo é possível" é a ideia da tese. Exemplificando Castello Branco, conta que um dia esteve com o maestro numa apresentação "com cerca de 900 colegas e em10/ 15 minutos o autor colocou-nos a todos a cantar o hino da alegria em alemão." O consultor confessa que esse facto "era algo que seria um pouco impensável à partida." Mas não foi. Zander "Deu-nos uma folhinha em alemão, deu o mote, ensaiamos três vezes e à quarta foi perfeito. Ficamos todos a cantar."
A tese do autor partilhada por este consultor, alumni do INSEAD, é a seguinte " a forma como nós olhamos para as coisas condiciona muito as consequências que tiramos delas. Assim se eu olho para o copo meio vazio vou actuar de uma maneira; se eu olhar para o copo meio cheio, actuo de outra." Se a confrontação de um problema é via a lógica de sobrevivência, da escassez de recursos, da luta sem tréguas então a conclusão vai ser limitativa; se o olhar sobre as coisas recair sobre a perspectiva da possibilidade que existe dentro delas, então é diferente. Para Castello Branco, que considera este livro como "um manual sobre a atitude mental", o livro vale a pena pela forma como está construído. "À base de experiências do autor e citações que dão vida ao conceito", diz. "Eu procuro a estatua que está dentro do bloco de pedra" de Miguel Ângelo, é uma delas, com implicações a nível da educação e da gestão de pessoas.
Esta partilha foi publicada a 25 de Novembro de 2006 na rubrica "Ideias em Estante", do caderno Economia do Jornal Expresso
Domingo, 19 de Novembro de 2006
"O Livro que me Marcou" - Francisco Murteira Nabo
“The Rise and Fall of the Great Powers: Economic Change and Military Conflict From 1500 to 2000”, de Paul Kennedy (1987), é uma das obras que mais marcou Francisco Murteira Nabo, “um macro economista que faz micro economia”, como o próprio se define.
“Neste livro o autor faz uma análise dos grandes impérios ao longo da história e procura interpretar porque é que eles cresceram, fizeram a sua ascensão (e o tempo que demoram); procurando, ainda, visionar o que é que vai acontecer para a frente”. Este livro marcou Murteira Nabo, economista de formação e que já desempenhou vários lugares de gestão porque “eu gosto muito da história económica, por um lado, e porque gosto muito de tudo o que esteja ligado à visão do mundo”. Além disso, o actual Bastonário da Ordem dos Economistas afirma que “a lição que o autor dá tem um pouco haver com o que se passa no mundo empresarial. ”O poder económico leva quase sempre à ambição territorial. E esta leva, segundo o autor, à sua fragilidade económica porque o foco deixa de ser o foco económico (e, passa a ser o militar), que “às vezes não produz a riqueza por forma a manter o poder.” Para Murteira Nabo, que defende que “a ambição tem que ser alimentada pela riqueza”, o mesmo se passa com as empresas. “Algumas empresas acabam por entrar em debilidade e serem adquiridas porque ao se fortalecerem criam ambição de conquista. E ao comprarem outras, se a taxa de rentabilidade dos capitais não for suficientemente grande por forma a compensar o investimento feito dos juros da divida, então a empresa acaba por ser fragilizada. Podendo mesmo acabar por ser comprada.”
Para este economista, que afirma que “a Economia é transversal e mexe contudo”, “a expansão (seja ela territorial ou empresarial) tem que ser feita em equilíbrio económico e financeiro.”
Esta partilha foi publicada a 19 de Novembro de 2006 na rubrica "Ideias em Estante", caderno Economia, do jornal Expresso.
Sábado, 11 de Novembro de 2006
"O Livro que me Marcou" - Carlos Zorrinho
“O meu desejo, era que daqui a 10 anos, Peter Drucker, se fosse vivo, pudesse escolher o caso Português como um Case Study de aplicação”, é com toda esta ambição profissional e igual admiração pelo “papa” da gestão, que Carlos Zorrinho, professor catedrático e coordenador para o Plano Tecnológico, fala do autor da obra que mais o marcou.
“Quando este livro saiu eu tinha acabado de me formar e estava a começar a minha carreira académica” diz o professor de gestão que dava aulas de Estratégia e de Investigação Operacional na Universidade de Évora. Zorrinho confessa que na altura “sentia uma certa frustração por me parecer que os métodos determinísticos não correspondiam à riqueza da dinâmica empresarial que estávamos a viver.” Ter visto um livro escrito por Drucker que diz exactamente que a chave da gestão é a recombinação permanente, é a capacidade de antecipar necessidades e de lhes dar resposta, que a estratégia é algo que emerge de uma boa adaptação à realidade “marcou-me muito”, desabafa Zorrinho, afirmando que este livro lhe abriu os horizontes para aquilo que “foi a minha área de trabalho académica e também de gestão de conhecimento e de informação.”
O professor diz mesmo que Drucker está para a gestão como Samuelson para a economia; e, que esta obra é o primeiro livro de gestão sobre as dinâmicas empresariais – aquelas que permitem antecipar o futuro. “Hoje se queremos triunfar no futuro temos que ter capacidade de antecipá-lo. De ser protagonistas dele.” Essa é a questão fundamental para Zorrinho que conclui dizendo: “Existem aqueles que interpretam o passado e o replicam; e, aqueles que interpretam o futuro e o antecipam”.
Livro - "Choque do Futuro"
"Choque do Futuro – Mitos e Excessos", Bob Seidensticker, Centro
Atlântico, 17,21 euros, 280 páginas
Todos estão enganados! É com este tom exclamativo que o autor desta obra afirma que o ritmo de mudança dos nosso dias “não é particularmente mais rápido que o de outros tempos” e que muitas das tecnologias revolucionárias “não passam de aperfeiçoamentos de inovações anteriores”. Bob Seidensticker, estudioso de tecnologia industrial, revela nesta obra muitos dos mitos e excessos que são produzidos pela nossa sociedade (de consumo). Com recurso a exemplos práticos, Seidensticker apresenta por meio de um texto interessante (onde as comparações e citações históricas são um must) os argumentos que dão peso à sua, chamar-lhe-ia, indignação perante os” enganos” que giram em torno da real dimensão social do choque tecnológico. (Para quê tanta euforia? É a questão que o autor deixa entre parênteses).
Quinta-feira, 9 de Novembro de 2006
"O Livro que me Marcou" - Vasco Vieira de Almeida
"Economics and the Law - from Posner to Postmodernism and Beyond", do professor de Direito Nicholas Mercuro e de Steven G. Medema, professor de Economia, é um livro "que li há cerca de seis anos e que me interessou não só como advogado mas como cidadão porque eu acho que os problemas que aqui estão tratados são problemas centrais hoje (em termos políticos e sociais). Isto é: abordam a relação entre o Direito e a Economia", disse Vasco Vieira de Almeida.
O livro marcou este advogado de uma forma negativa dado que "eu reforcei as posições que tinha, depois de o ler, porque acho que as abordagens que são feitas no livro, (que é uma análise das escolas de pensamento económico americanas sobre as relações entre a economia e o direito), são parciais. E, no fundo falham num problema central que é o de saber qual é o papel do Direito e qual é o papel da Economia."
Conhecedor das diferentes teorias que existem sobre a relação entre a Economia e o Direito, Vieira de Almeida afirma que "No fundo todas as análises parciais escondem o problema principal, que é a análise do poder". Para este advogado "parece-me muito essencial a análise do poder numa relação dialéctica com os governados." (tal como é defendido por uma escola norte americana).Isto é importante "porque não se pode fazer uma análise meramente económica da eficiência ou das decisões judiciais ou das normas jurídicas que não seja à luz da compatibilidade dessas escolhas com os princípios éticos, que todos nós hoje partilhamos e que são princípios gerais do direito."
Para Vieira de Almeida, que não acredita na ideia da moralidade intrínseca do mercado – e, por isso a necessidade de "existirem normas jurídicas para o regular" -, o direito foi absorvendo ao longo da história determinados princípios e "esses são princípios que não podem ser abandonados a favor de soluções económicas que não sejam justas. Este livro "levantou-me uma série de questões e marcou-me porque me permitiu confirmar muitas coisas que eu já pensava."
Esta partilha foi publicada a 9 de Novembro de 2006 na rubrica "Ideias em Estante", caderno de Economia, jornal Expresso.
Quinta-feira, 2 de Novembro de 2006
"O Livro que me Marcou" - Carlos Carvalhas
“Délocalisations – Aurons –Nous encore des Emplois Demain?”(2005), de Philippe Villemus, é a obra escolhida por Carlos Alberto do Vale Gomes Carvalhas, economista e antigo Secretário Geral do Partido Comunista Português (PCP). “Escolhi este livro para não escolher os clássicos do Marxismo – desde o Manifesto do partido comunista até ao “Rumo à Vitoria”, que em Portugal marcou uma geração. Mas para não estar com estes livros, resolvi escolher uma obra de um autor que não é bestseller.” Carvalhas confessa que a escolha desta obra está directamente ligada à nossa conjuntura nacional. “Achei que seria interessante chamar a atenção para esta questão (deslocalização)”.
Para este economista que foi Secretário de Estado do Trabalho em cinco governos provisórios, deputado do Parlamento Europeu e deputado no Conselho da Europa “a análise da situação retratada pelo autor é do meu ponto de vista lúcida. Porém existe uma contradição entre a primeira parte e a segunda parte… mas também é nessa que o autor descreve as medidas e as propostas; e onde o autor embarca em toda esta filosofia neo-liberal, que no fundo tem conduzido à situação em que estamos.” Questionado sobre a eventualidade de “estar a fazer uma escolha irónica?”, Carvalhas responde: “Até certo ponto sim. O autor é um homem que escreve bem e que tem formulações cativantes mas depois apresenta as soluções que todos andam por ai a propagar (certamente, porque também está “formatado”). Por isso é que me marcou”.
Segundo Carvalhas, ao longo do livro o autor tem “várias coisas com piada e apresenta várias conclusões”. No entanto as conclusões que apresenta “no meu ponto de vista não levam a nada. Ou melhor: levam à continuação do crescimento das desigualdades do mundo.”
Esta partilha foi publicada a 2 de Novembro de 2006 na rubrica Ideias em Estante, caderno de Economia, jornal Expresso.