“Eu tenho progressivamente ganho a convicção de que o tipo de concorrência que temos, com todos os seus defeitos – e que são sérios – é melhor do que a norma “pura e perfeita” porque aponta para o progresso. Alguns afastamentos da concorrência “pura e perfeita” são não só inseparáveis do progresso mas necessários para ele”, esta afirmação, “que eu subscrevo”, diz Amado da Silva, é de John Maurice Clark (1884-1963) e encontra-se em “Competition as a Dynamic Process”(1961), o livro eleito pelo professor como uma das obras que mais o marcou.
Sendo uma das fontes da tese de doutoramento de Amado de Silva publicada em “Economia Industrial e Excesso de Capacidade”, (onde fala, entre outros, de fusões, aquisições, política anti-trust e regulamento de controlo de concentração de empresas), esta obra assume um especial relevo para o professor, que se questiona “será que este livro me levou a pensar da forma que penso hoje? Ou será que eu já pensava assim e encontrei alguém que pensou da mesma maneira?”.
Pioneiro, este documento surge como uma evolução de um artigo publicado pelo autor na American Economic Review - “Toward a Concept of Workable Competition (1940). Um progresso que surgiu face a constatação de que “ a concorrência praticável não é aquela que se pode fazer, mas aquela que se faz”. Clark, que antecipou as ideias de Keynes, apresenta a concorrência (ao contrário do seu pai, um economista neo-clássico), não como um estado, mas como um processo dinâmico. “O equilibro está para o pai, como o processo dinâmico para filho”, observa Amado da Silva, que reconhece nesta visão dinâmica um dos factores de diferenciação do livro. O outro consiste na importância da “ética económica”. Duas variáveis que dão brilho aos olhos deste professor de economia industrial, que tem hoje nas mãos uma das maiores decisões sobre politica de concorrência no país. Como deixa escapar, enquanto folheia os seus apontamentos, “tento colocar em pratica, todos os dias, a evolução que também tenho vindo a fazer.” Um processamento onde as ideias de Clark estão vigentes e onde a economia social se impõem, uma vez mais, “porque olha para a realidade do funcionamento da economia”.
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José Manuel Amado da Silva, licenciado em Engenharia Químico – Industrial pelo IST, Doutorado em Economia pela Universidade Católica Portuguesa. Foi docente no ISCTE, no INP, na Faculdade de Economia da UNL, na Autónoma e na UCP, tendo sido Vice-Reitor. Consultor nas áreas de privatizações, avaliação de programas comunitários, estratégias empresariais, política industrial e regulação. Actualmente é Presidente da ANACOM.