Comentário ao livro “O Banqueiro dos Pobres” de Muhammad Yunus, edições Difel, por Filipe Papança, Professor na Escola Politécnica do Exército
Esta obra revela-nos uma verdade surpreendente, na realidade é preciso muito pouco para mudar a vida de uma pessoa. Segundo o autor não são os grandes projectos de desenvolvimento, principalmente quando “vindos de cima” que contribuem para o salto qualitativo, antes pelo contrário muitas vezes se tornam propiciadores de vícios, de desperdício, não chegando muitas vezes sequer a desempenhar a sua função.
Por outro lado em certas organizações onde impera a solidariedade institucionalizada, a pobreza, poderá ser interpretada não como um objectivo, mas como um pretexto. O micro crédito, pelo contrário propicia uma oportunidade a quem tenha uma “boa ideia” de iniciar uma vida nova. Não constitui uma esmola , antes responsabiliza o beneficiário, obrigando-o a ir pagando, regularmente, a uma taxa compatível com a sua capacidade de esforço e a rentabilidade do seu investimento, responsabilizando-o, contribuindo para a melhoria da sua auto estima, promovendo a sua dignidade. Aposta na confiança uma vez que à partida ao contrário dos bancos apelidados de “tradicionais”, não são exigidas contrapartidas. Constitui igualmente também um retrato de uma nação onde a qualidade do ensino ministrado assente no respeito, mesmo veneração, pela docência, aliados ao rigor e à exigência, se tornaram alavancas ideais para uma saída viável do mundo do subdesenvolvimento, fornecendo uma base estável para o desenvolvimento deste e de outros projectos empresariais, onde aliás impera a relação professor aluno e não empregado patrão. Quanto aos aspectos religioso e cultural, ajudou à queda de barreiras, promoveu o espírito de equipa, a independência e a emancipação da mulher em locais, onde esta não era ainda uma realidade. È uma obra recomendável, que se lê de uma forma agradabilíssima, a que não é alheio um profundo toque pessoal, fruto de uma experiência intensamente vivida, aliando a teoria e a prática , que para além de uma prodigiosa lição de economia constitui uma excelente lição de humanidade.