FREAKONOMICS, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. Será publicado em Portugal no início de 2006 pela Presença. «Best-seller» internacional
Aborto, crime e piscina
SABIA que a legalização do aborto pode ter um impacto positivo na descida da criminalidade? O que é que é mais perigoso: uma arma ou uma piscina? Conhece os mitos dos financiamentos das campanhas eleitorais? Conheça as respostas «freak» de Dubner e de Levitt - nomeado, com a «The John Bates Clark Medal», como o melhor economista norte-americano com menos de 40 anos.
O já denominado Indiana Jones da economia, o economista que afirma que o mundo moderno não é impenetrável, e que tudo depende da forma como encaramos a realidade, já é, por muitos, aclamado como o pai de «uma nova forma» de interpretar a economia. Steven D. Levitt é um conceituado professor de economia da Universidade de Chicago que escreveu com o jornalista Stephen J. Dubner um livro que, no mínimo, dá que pensar. Não fosse esse um dos objectivos da obra - Freakonomics - assente em dados económicos e com uma boa pincelada do factor O, de observação, e um certo q.b do factor C, de curiosidade. Um «cocktail» que pode ser interpretado a quente, ou a frio, dependendo do nível «freak» que exista em cada um de nós. Por definição, «to be freak» significa ser extremamente diferente, fora do comum, inesperado. O livro corresponde exactamente a essa definição.
Utilizando ferramentas da economia clássica, tais como o recurso à estatística e à econometria, e tentando entender os impulsos emocionais do ser humano, este livro descreve o comportamento da economia enquanto ciência que serve a humanidade. Segundo os autores tudo passa por uma boa pergunta. E boas perguntas não faltam nesta obra que surpreende positivamente por não encarar nada, ou quase nada, como um dado adquirido. Tudo é questionável. Num mundo em que são poucos os que questionam a realidade - ou por preguiça ou por medo das consequências - quem sabe não será esse um dos segredos do sucesso deste livro que já é um «bestseller» nos Estados Unidos, onde liderou o «ranking» do Boston Globe, e no Brasil, onde tem ocupado o primeiro lugar do «top» da revista «Veja» na categoria «Não Ficção». No final da semana passada foi anunciado como o melhor livro de negócios do ano («The Quill Awards») e já está nomeado para o «The Financial Times/Goldman Sachs best business book».
Porque é que os traficantes de droga vivem com as mães? Será que um bom primeiro nome contribui para o sucesso na vida? Se estas questões provocam curiosidade, algumas das suas respostas podem provocar indignação. Por exemplo, os autores provam que a legalização do aborto teve um impacto positivo na descida da criminalidade nos Estados Unidos.
Gostando ou não da abordagem dos autores, o facto é que a leitura deste livro, além de muito fluida, é surpreendente e inquietante. Surpreendente, porque estamos perante um livro que fala de economia numa linguagem comum, e que explica factos do quotidiano mundano por um prisma diferente. Inquietante porque aborda inúmeros assuntos - da estrutura de uma gangue de «crack» aos segredos do Ku Klux Klan. É um livro, que tal como os autores afirmam, não tem um tema unificador. Mas sim um desafio comum. O de pensar de forma sensível sobre o comportamento das pessoas no mundo real. Da nota introdutória ao epílogo, as 230 páginas deste livro «transpiram» sentimentos. Sentimentos num mundo comandado por incentivos. Num mundo onde, nem sempre, impera a máxima «perguntar, não ofende ninguém», mas onde, ainda, há quem pergunte.
«'To be freak' significa ser extremamente diferente, fora do comum, inesperado. O livro corresponde exactamente a essa definição.»